
Conflito Israel e Palestina
Como foi o caminho dos dois povos e as nuances do conflito até o cenário atual de uma guerra que parece não ter fim


Feito por: Thomás Accioly e Bernardo Fonseca
O conflito entre Israel e Palestina é um dos mais longos e complexos da história da humanidade. Atravessando milênios, a batalha pela autodeterminação de seus respectivos povos tem resultado em momentos sangrentos para ambas as partes. Porém, não é só na fronteira de Gaza que acontecem as guerras. A disputa de narrativas é uma parte fundamental do confronto que está espalhada por todo o mundo, onde as pessoas espalham notícias, falsas e reais, com o objetivo de provar um ponto e legitimar o lado que consideram correto. A partir disso, a equipe de reportagem montou uma linha do tempo que explica todos os detalhes do combate.
A ofensiva foi iniciada às 6:30 de sábado (7), quando começaram a ser lançados foguetes contra o território israelense. Nas horas seguintes, militantes do Hamas entraram no país vizinho pelo mar, pelo ar e por terra, quando derrubaram parte do muro que separa Gaza de Israel. Os terroristas do Hamas começaram a atirar em pessoas nas ruas, entrar em suas casas e assassinar famílias inteiras e sequestrar civis para que fossem usados como moeda de troca em negociações para a liberação de outros membros da organização presos em Israel. Só nas primeiras 48 horas foram registradas as mortes de quase mil pessoas, marcando o maior número de judeus assassinados em um único dia. O número de sequestrados era de cerca de 150 pessoas, segundo o embaixador israelense da ONU, Gilad Erdan.

Homem correndo dos mísseis no ataque do dia 7 (Reprodução: Internet)
Logo após o ataque, Israel iniciou a retaliação ao Hamas, passando a bombardear pontos tidos como estratégicos para os terroristas. Porém, a posição dos militantes palestinos muitas vezes está localizada em locais com grande presença de civis, como prédios residenciais e túneis subterrâneos próximos a escolas e hospitais. Até o momento, foram contabilizados quase nove mil mortos palestinos, a maioria civis. O número de óbitos israelense pouco aumentou desde os primeiros dias do conflito, muito por conta da grande força do exército do país e de aparatos de segurança como o Domo de Ferro, que intercepta os mísseis inimigos no ar, impedindo que atinja seu território. Nos últimos dias, as forças de segurança de Israel iniciaram operações para a entrada por terra na faixa de Gaza, com o objetivo de resgatar os 250 reféns e localizar os membros do grupo terrorista e capturá-los de modo que não precisem atingir áreas com pessoas comuns.
Para o historiador especialista em atualidades, Paulo Eduardo dos Santos, o conflito ainda parece longe do fim e enxerga possibilidade de cenário muito mais alarmante que o atual. "Negociada, a solução no momento é quase impossível, porque Israel não aceita nenhum cessar fogo que não reconheça que Israel foi agredido pelo Hamas e que Israel tem o direito de se defender, por outro lado Israel tem o objetivo de destruir o Hamas, o que leva qualquer possibilidade de trégua ser inviável". Além disso, para o entrevistado, ainda há o empecilho de que ONU parece não haver qualquer influência no processo de paz nesse momento, já que os membros permanentes do Conselho de Segurança, como Estados Unidos, podem exercer o poder de veto e encerrar qualquer resolução em debate. "A ONU, que seria o fiel dessa balança, está com as mãos atadas, porque o Conselho de Segurança tem 5 membros permanentes e sempre um ou dois irão vetar qualquer solução".
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As projeções para o futuro são alarmantes, segundo Paulo Eduardo. Com o possível envolvimento dos Estados Unidos no conflito ou o aumento das tensões entre Israel e o Hezbollah na fronteira ao norte do país, o que poderia levar à entrada direta do Irã no conflito, é observado como um cenário de guerra mundial para o especialista. "Se o Hezbollah e os Estados Unidos se envolverem nós caminhamos para uma guerra de escala global, porque o Hezbollah é aliado do Irã, que é um inimigo tradicional de Israel e Estados Unidos. Então, a tendência natural é que se os Estados Unidos se envolverem para proteger Israel de um possível ataque do Hezbollah ou do Irã, a gente caminhe para uma terceira guerra mundial".
Além disso, o entrevistado alerta sobre a onda de antissemitismo crescente ao redor do mundo. Devido ao conflito, diversas manifestações antissemitas tem acontecido, principalmente em países europeus como França e Alemanha."A questão do antissemitismo é uma questão latente em quase todas as sociedades. Existe, realmente, no mundo uma situação séria de antissemitismo em vários países. Em qualquer situação em que Israel apareça, principalmente em que Israel apareça usando a força do seu exército, esse antissemitismo vem à tona. Isso não é uma novidade, não é algo de agora, já é algo antigo, principalmente na história do mundo ocidental, mas que tem crescido nesse momento. Apesar que nós ja vivíamos uma onda antissemita antes de eclodir a guerra. A França é um dos países que tem o maior número de judeus saindo do território e indo para Israel por conta do preconceito experienciado." No território francês, um ato semelhante ao realizado pelos nazistas na década de 30 está se repetindo, já que diversas residências de judeus têm sido identificadas pela estrela de Davi, para que assim, os radicais violentos realizem ataques contra a comunidade judaica no país. Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz, ressaltou a importância da proteção ao povo judeu que vive no país, devido aos acontecimentos do passado, e disse ser uma "vergonha" o aumento de casos de antissemitismo do povo alemão.

Estrela de Davi pintada nos edifícios de moradores judeu em Paris (Reprodução: Internet)
Dessa forma, o conflito ainda parece estar muito longe do fim e os desdobramentos diários vão alterando o cenário na busca pela paz. O Brasil, inclusive, é uma peça chave na busca pela resolução, já que além da amistosa relação diplomática com os representantes palestino e Israel, ocupa o posto rotativo de presidente do Conselho de Segurança da ONU, podendo assim convocar reuniões e trazer pautas importantes para discussão.
Por que essa região?
A região compreendida entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão é tida por ambos os povos, e não só por eles, como uma região sagrada, onde aconteceram importantes eventos religiosos. Para o povo judeu, a região seria a "Terra Prometida" ao patriarca Abraão, e ali teria sido estabelecida a civilização judaica após a libertação do Egito e o retorno para Canaã, tendo Jerusalém como capital do Reino de Davi . Já para o Islã, a região ao entorno de Jerusalém seria o espaço para onde o profeta Maomé teria peregrinado após passar por Meca e Medina e teria subido aos céus.
Além disso, existe uma grande disputa de narrativas para afirmar quem é o povo originário da região. Os judeus afirmam estar lá como civilização, identificada de maneira étnica e religiosamente, há 5773 anos, de acordo com o calendário judaico. Porém, os habitantes foram expulsos da região pelo Império Romano, o que marcou a diáspora judaica moderna, que espalhou esse povo por todo o mundo. Enquanto isso, o povo palestino afirma estar lá há mais de dez mil anos, devido a sua origem nos cananeus, que seriam, de fato, o povo original do local.
O que é sionismo?
Desde a Diáspora, judeus manifestam em suas festas e cânticos o desejo de retornar a sua terra natal. Com a crescente onda de antissemitismo na Europa no século XIX, o jornalista Theodor Herzl escreveu o livro "O Estado Judeu" em 1896. A obra serviu como influência para a organização política do movimento sionista. A localidade e a viabilização de um território para a criação do Estado era tópico de discussão entre os sionistas que tinham como opções o Alasca, Guiana, Madagascar, Uganda, um Oblast russo (região administrativa autônoma) e a região que habitavam antes da diáspora, Israel.

Mapa que ilustra as antigas propostas de criação do Estado Judeu (Reprodução: Globo News)
Com a popularidade do movimento no continente europeu, foi organizado um grande congresso sionista em 1897, em que foi determinado que a região onde deveria ser estabelecido o Estado é o da atual localização de Israel. A maneira com que seria feita a viabilização era a compra de terras que seriam ocupadas pelos que imigrariam para lá.
Declaração de Balfour
A Declaração de Balfour foi um documento escrito em 1917 pelos líderes da maior potência mundial à época - no caso, a Grã-Bretanha - que demonstrava apoio a causa sionista e a criação de um lar para o povo judeu na região da Palestina. A carta endereçada ao Barão de Rothschild, escrita por Arthur James Balfour, dizia que apesar do incansável esforço para o estabelecimento judeu na região, "nada deve ser feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina". Para os judeus, esse documento serviu como um marco inicial para o estabelecimento da criação de seu Estado, enquanto para os povos que residiam na região, até então sob domínio do Império Turco-Otomano, foi tratada como uma grande traição, já que havia sido feita uma promessa entre árabes e britânicos de apoio político e militar durante a Primeira Guerra. A escritura dessa carta é tida como um marco inicial do conflito Israel - Palestina.

Imagem de Arthur James Balfour e a Declaração de Balfour (Reprodução: Internet)
Mandato Britânico
Ao fim da Primeira Guerra Mundial, os territórios do Império Otomano - derrotado no conflito - foram divididos entre franceses e ingleses. O Mandato Britânico foi formalmente consumado em 1922 pela Liga das Nações (organização precursora da ONU), que determinou a autoridade política e administrativa da região aos britânicos. Com o poder da região nas mãos do governo europeu e o aumento dos casos de antissemitismo - principalmente na Alemanha - o número de imigrações judaicas começou a aumentar muito, o que levou a estipulação de uma quantidade limite anual de judeus que poderiam se mudar para a região e o estabelecimento de um limite de compras de terras. A presença judaica cada vez maior acompanhava o aumento das tensões na região.
Até o fim do mandato em 1948, foram muitas as revoltas árabes e judaicas contidas pelo exército inglês na região. Antes do término da administração britânica, a Assembleia Geral da ONU havia aprovado a resolução 181 que tratava o futuro daquela região após a saída dos ingleses
Plano de partilha da Organização das Nações Unidas
Em 29 de novembro de 1947, foi aprovado pela ONU o plano de divisão do território da Palestina. O acordo previa a criação de dois Estados: um para o povo judeu e outro para o povo árabe. Já a cidade sagrada de Jerusalém seria considerada uma localidade internacional, com sua administração sendo feita pela ONU. Na assembleia, 33 países votaram a favor, dez se abstiveram e treze foram contra (dez países árabes).
Apesar da insatisfação em relação às questões de imigração de sua população, os representantes judeus aceitaram o acordo proposto. Os palestinos e os demais países árabes não aceitaram, alegando que a partilha das terras não era justa, já que a Israel caberia uma maior porcentagem das terras, além de receberem os locais mais férteis.

Plano de Partilha da Onu (Reprodução: Internet)
Primeira guerra Árabe-Israelense
Em 14 de maio de 1948, algumas horas antes do fim do Mandato Britânico, David Ben Gurion, político israelense, proclamou a independência do Estado de Israel. A reação dos países árabes - Egito, Iraque, Arábia Saudita, Síria, Líbano e Jordânia - foi declarar guerra ao novo Estado e atacá-lo por três frentes diferentes. Os israelenses venceram o conflito e foi assinado um armistício em 1949. Nesse novo acordo ficou decidido que Gaza, território ao sul de Israel, seria controlado pelos egípcios e a região que conhecemos hoje como Cisjordânia. A parte oriental de Jerusalém seria administrada pela Jordânia.
Essa parte do conflito se tornou um marco para o povo palestino, que a chama de Al-Nakba, A Grande Tragédia, em português, já que o número de pessoas árabes desalojadas e expulsas das terras conquistas por Israel superaram os 700 mil.
Guerra de Suez
O Egito promoveu a nacionalização do Canal do Suez, o que desagradou as potências coloniais europeias - França e Inglaterra - as quais decidiram se aliar a Israel para tomar o controle da via marítima. O canal apresenta uma importância estratégica e política, já que tendo controle sobre ele, é possível acessar a Europa por meio do Mar Mediterrâneo sem a necessidade de contornar toda a África. Além disso, é possível influenciar o preço dos barris de petróleo que saem do Golfo Pérsico.
Israel declarou guerra ao Egito e organizou uma grande operação militar para a tomada do controle do Canal, a qual foi intensificada com o apoio de paraquedistas franceses e ingleses. A ação resultou na posse da entrada do Suez. Porém, o apoio da União Soviética aos egípcios e as ameaças de entrar no conflito fizeram com que os Estados Unidos, em tempos de Guerra Fria, exercesse sua influência e pressionasse para a retirada das tropas invasoras.
Fatah
O Fatah é um partido político palestino fundado no Kuwait, em 1959, por cidadãos na diáspora. O significado do nome é "Movimento para a Libertação da Palestina". A entidade política é a maior organização palestina no ramo e possui um braço armado que realiza ataques contra Israel. Um de seus fundadores, Yasser Arafat, foi o grande líder da luta por libertação durante o século XX e, desde sua morte, seu sucessor Mahmmoud Abbas está no poder. Atualmente, defendem o nacionalismo e o Estado laico, atuando apenas na Cisjordânia desde que foram expulsos de Gaza pelo Hamas.

Bandeira do Hamas (Reprodução: Internet)
Organização para a Libertação da Palestina (OLP)
A OLP é um grupo político e militar fundado em 1964 por Yasser Arafat. A organização era formada por diversos grupos políticos palestinos e era considerada a única representante legítima desse povo. Eles foram os responsáveis por todas as tentativas de paz através de tratos até a criação da Autoridade Palestina no Acordo de Oslo, em 1993.
Guerra dos Seis Dias
A terceira guerra entre árabes e israelenses levou apenas 6 dias, entre 5 e 10 de outubro de 1967, e resultou em grandes mudanças no Oriente Médio. O conflito, que tinha de um lado Israel e do outro Egito, Síria, Jordânia e Iraque, que receberam apoio de outros países da região - Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Sudão e Argélia - resultou em uma expansão das fronteiras do Estado judeu.
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Devido a movimentação e instalação de tropas árabes nas fronteiras, Israel decidiu lançar uma ofensiva aérea contra o Egito, que foi pego de surpresa, dando início ao conflito. Ao fim dos seis dias de combate, as forças militares israelenses haviam conquistado a península do Sinai, as Colinas de Golã e toda a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. A partir da conquista, Israel começou a instalar assentamentos judaicos na Cisjordânia. Os assentamentos são pequenas colônias de judeus cercadas por muros que estão estabelecidas em território palestino e o acesso a elas é proibido a população palestina.

Mapa que mostra a região antes e depois da Guerra dos Seis Dias (Reprodução: Internet)
Guerra de Yom Kippur
O Yom Kippur é o dia do perdão para o judaísmo, época em que os que seguem a religião buscam a expiação divina. Às vésperas do feriado religioso mais importante para os judeus, sírios e egípcios atacam Israel. A motivação por parte desses países foi a vontade de reconquistar os territórios perdidos - Sinai e Colinas de Golã - na Guerra dos Seis Dias. Apesar da luta em duas frentes diferentes, os israelenses foram mais uma vez vitoriosos no combate, derrotando os exércitos árabes.
A consequência desse conflito foi, principalmente para o mundo ocidental, um grande aumento no preço do barril de petróleo. Como os países do Oriente Médio são detentores das maiores reservas de petróleo, decidiram punir os Estados Unidos e os demais países que apoiaram Israel no conflito, já que esse recurso energético era fundamental para o abastecimento do ocidente. Além disso, a partir desse conflito, as populações árabes da região passaram a ver a possibilidade de vencer os israelenses em um conflito bélico como algo muito distante.
Resolução 3379 da Assembleia Geral da ONU
A Resolução 3379, discutida em 10 de novembro de 1975, estabelecia que "a cooperação internacional e a paz requerem a conquista da libertação e da independência nacionais, a eliminação do colonialismo e do neocolonialismo, da ocupação estrangeira, do sionismo, do apartheid e da discriminação racial em todas as suas formas, assim como o reconhecimento da dignidade dos povos e do seu direito à autodeterminação", classificando o movimento sionista como racista e opressor e a existência do Estado judeu no território em que está situado como ilegítimo.
Dezesseis anos depois, foi aprovada a Resolução 4686 da ONU, que anulou a anterior. O presidente americano, George H. W. Bush, disse na sessão que "igualar o sionismo com o pecado imperdoável do racismo é deformar a história e esquecer a terrível tragédia dos judeus na Segunda Guerra Mundial e de fato ao longo da história". A nova medida foi aprovada com 111 votos a favor, 25 contra - grande parte árabes - e 13 abstenções.
Acordos de Camp David
O acordo de paz de Camp David foi estabelecido entre Israel e Egito, com o objetivo de selar a paz entre as nações. As tratativas começaram a ser negociadas em 1978 na residência de verão do presidente americano, à época Jimmy Carter, sendo finalizadas em Washington no ano seguinte. A iniciativa egípcia em busca de paz partiu de seu presidente, Anwar Sadat, que foi retribuída pelos israelenses que o convidaram a discursar no parlamento de Israel. A partir desse evento, estava aberto o caminho para o resultado positivo das negociações. Para a conclusão foram debatidos temas como a retirada das tropas israelenses do Sinai (que em 1982 foi devolvido ao Egito) e a concessão de autonomia para os territórios palestinos. O acordo de paz rendeu o Prêmio Nobel da Paz, que foi concedido aos países pela busca da resolução pacífica.
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Em retaliação ao acordo, os demais países árabes cortaram relações com o Egito e transferiram a capital da Liga Árabe para a Tunísia. Além disso, jihadistas muçulmanos que não aceitaram o acordo foram responsáveis pelo assassinato de Sadat durante um desfile militar no Cairo em 1981.
Primeira Intifada
A Primeira Intifada foi uma revolta da população palestina contra a presença israelense na região de Gaza e na Cisjordânia. O povo enfrentava o exército de Israel com paus e pedras, o que era respondido com contra-ataques violentos, onde muitos civis foram mortos. Em 1988, Yasser Arafat, líder da OLP, em meio aos protestos populares, deu um grande passo no caminho da paz com Israel. Arafat se mostrou a favor da existência do Estado judeu e a autodeterminação no povo palestino, abrindo espaço para negociações com os representantes da outra nação. Em 1992, Yitzhak Rabin foi eleito primeiro-ministro de Israel e também se mostrou a favor das tratativas. O levante teve fim em 1993 com o início do Acordo de Oslo.

População palestina durante a Primeira Intifada (Reprodução: Internet)
Hamas
O Hamas é um partido político nacionalista e fundamentalista islâmico que é considerado um grupo terrorista pela União Europeia, Israel, Japão, Canadá e os Estados Unidos. Foi fundado em 1987 durante a Primeira Intifada e realizou, desde então, diversos ataques ao território israelense.
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Está disposto em seu estatuto o objetivo de exterminar o Estado de Israel, assim como o povo o judeu. Além disso, não acreditam haver solução pacífica para o conflito, e que a única maneira de resolver as questões é através da jihad (guerra santa). A entidade foi eleita nas eleições palestinas de 2006, porém não teve respaldo internacional nem do grupo político rival - o Fatah - que levou a um conflito sangrento entre as partes. Atualmente, recebem recursos do Irã e do Qatar, comandam a faixa de Gaza e foram os responsáveis pelos ataques do dia 7 de outubro.

Símbolo do Hamas (Reprodução: Internet)
Acordos de Oslo

Mapa que representa as áreas A (verde), B (vermelho escuro) e C (vermelho claro) (Reprodução: Internet)
Os Acordos de Oslo foram uma série de acordos firmados entre Israel e os representantes palestinos da OLP em 1993. Os principais pontos do acordo foram: a paz entre as duas partes, a retirada das forças armadas da faixa de Gaza e da Cisjordânia, a determinação de um autogoverno provisório até 1996 que seria governado pela Autoridade Palestina e a renegociação dos territórios para a viabilização de um Estado Palestino. Os tratados foram considerados um grande avanço para a paz no Oriente Médio, o que resultou na entrega do Prêmio Nobel da Paz a Rabin e Arafat em 1994.
Nessa maneira de autogoverno, ficou decidido que o território da Cisjordânia seria dividido em três áreas: A, B e C. A área A seria de controle cível e militar da Autoridade Palestina, na área B apenas o controle cível seria feito pelos palestinos e na área C tudo seria responsabilidade de Israel. Esse tipo de organização impossibilita a criação de uma unidade territorial, já que a região é cortada pelas diferentes áreas. Essa forma de governo está estabelecida até os dias de hoje.
Uma das consequências da assinatura do acordo foi o assassinato do primeiro ministro de Israel, Yitzhak Rabin. O premier foi morto após uma passeata pela paz por um grupo israelense de extrema direita que não aceitava a paz com o povo palestino.
Segunda Intifada
A Segunda Intifada foi mais um levante do povo palestino contra a ocupação israelense nos territórios palestinos que teve início em 2000. Juntamente com o impasse nas tratativas que aconteciam após os Acordos de Oslo, a revolta foi motivada pela ida de Ariel Sharon, que viria a se tornar primeiro-ministro de Israel, à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. A visita feita com escolta policial fortemente armada e a fala de que se desejava liberar o acesso de judeus ao local foi vista como uma provocação para o povo árabe, já que o terceiro local mais sagrado para o islã - a Mesquita de Al-Aqsa - está localizada na esplanada e a entrada de não-árabes ao templo é limitada.

Jovens palestinos lançando pedras a tanque israelense durante a Segunda Intifada (Reprodução: Internet)
Em 2001, quando Sharon é eleito Primeiro Ministro, as tensões aumentam, já que o mesmo se recusava a encontrar com Yasser Arafat para realizar reuniões que buscassem a paz. Até a morte de Arafat, em 2004, e a ascensão de Mahmmoud Abbas ao posto de liderança da OLP, o conflito vitimou milhares de civis, com a realização de atendados suicidas por parte de palestinos e a força excessiva utilizada pela Força de Defesa de Israel. Em 2005, é assinado um cessar-fogo entre as partes, o que marca o fim da segunda intifada. Porém, o Hamas não reconhecia essa decisão e lançou foguetes contra o território de Israel, o que causou a exoneração de oficiais do governo palestino que eram filiados ao grupo, aumentando o atrito entre as facções rivais. Em 2005, as tropas israelenses se retiraram da faixa de Gaza junto com mais de 8.000 civis judeus da região.
Eleições palestinas e conflito entre Hamas e Fatah
Em 2006, foram realizadas as primeiras eleições parlamentares palestinas desde 1996. O resultado final foi a vitória do Hamas sobre o Fatah - grupo político que estava no poder - por 45% a 41%. A vitória do grupo radical foi a materialização da insatisfação da população palestina com o partido antecessor, que buscava o diálogo e a coexistência com Israel, enquanto os radicais promoviam discursos agressivos e a eliminação dos israelenses. A ascensão do grupo terrorista ao poder fez com que Israel cortasse as conversas com os palestinos e países como Estados Unidos, Rússia e membros da União Europeia não reconhecessem a legitimidade do novo governo e suspendessem os recursos entregues à Autoridade Palestina.
As tensões entre Hamas e Fatah aumentaram após a eleição, já que o partido derrotado exigia formar uma coalizão e restabelecer conversas com Israel e ter o apoio financeiro internacional. Em 2007, a dissolução do Conselho Nacional Palestino fez com que o Fatah estabelecesse seu poder na Cisjordânia, onde tinha uma base de apoiadores maior, mas que foi respondida com uma violenta expulsão dos membros do partido da faixa de Gaza, que passou a ser controlada exclusivamente pelo Hamas.
Atualmente, a situação se mantém da mesma forma. O Hamas tem o controle da faixa de Gaza e é tratado como grupo terrorista, exceto por governos islâmicos radicais - como o Irã - e o Fatah, por meio da ANP, tem o controle da Cisjordânia e o reconhecimento e apoio internacional na luta pela autodeterminação do povo palestino.
Conflitos de 2009 a 2021
De 2009 a 2021, Hamas e Israel têm protagonizado conflitos constantemente. Em 2009, em resposta ao envio de foguetes ao seu território, Israel executou a operação "Chumbo Fundido", quando lançou uma ofensiva aérea e uma invasão terrestre a Gaza. Em 2012, o conflito é iniciado a partir do assassinato de um dos líderes do Hamas, Ahmad Jaabari, que foi respondido com quase 1500 mísseis - por volta de 900 atingindo o território israelense - lançados pelos terroristas. Em 2014, o conflito foi marcado pela busca das forças de defesa de Israel em destruir os túneis subterrâneos construídos pelos palestinos, os quais são usados para contrabando de suprimentos e armamento. Já em 2021, após um confronto entres palestinos e a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, o Hamas e a Jihad Islâmica (grupo terrorista da faixa de Gaza ligado ao Hamas) lançaram uma série de foguetes em direção a Israel em "solidariedade" ao acontecido. 90% do projéteis foram interceptados pelo Iron Dome, armamento militar usado como campo protetor de mísseis. Somados a esses conflitos, foram vitimados mais de 4 mil palestinos - milhares de civis entre os mortos - e cerca de 100 israelenses.
Acordos entre Israel e os países árabes
Além do Egito, que assinou os Acordos de Camp David em 1979, outros países estabeleceram, em um passado recente, relações diplomáticas com Israel. Em 2020, Bahrein e Emirados Árabes Unidos normalizaram as relações políticas com os israelenses, reconhecendo o Estado judeu. Mais uma vez, a comunidade árabe do Oriente Médio não se agradou com essas negociações, dizendo que essa posição era contrária à luta pela criação de um Estado palestino.

Líderes políticos de Israel, Bahrein e Emirados Árabes na assinatura do Acordo, nos Estados Unidos (Reprodução: Internet)
Em 2022, Líbano e Israel fizeram um acordo sobre as fronteiras marítimas dos dois países, pondo fim a anos de uma relação política hostil. Ambas as negociações foram intermediadas pelos Estados Unidos, que são grandes aliados de Israel.
Cenário político de Israel
Durante 2023, o governo de Benjamin Netanyahu propôs uma reforma judicial que aumentaria o poder do Parlamento, o que é considerado por grande parte da população uma ameaça à democracia, abrindo precedente para um governo autoritário. Aconteceram protestos populares durante 29 semanas consecutivas no país contra a possível mudança. Além disso, as atitudes do primeiro-ministro têm sido polêmicas desde que assumiu seu terceiro mandato, em 2022. O fato gerou uma grande polarização da população, que ou o apoiam ferrenhamente ou são grandes opositores. O político começou a dialogar com partidos de extrema direita que são a favor da expansão dos assentamentos na Cisjordânia e promovem discursos de ódio contra as populações árabes.

Manifestantes protestam contra a reforma judicial em Israel (Reprodução: Internet)
Além disso, Israel e Arábia Saudita caminhavam, nos últimos meses, para um acordo de normalização das relações diplomáticas mediado pelos Estados Unidos. Os árabes indicaram que o reconhecimento de Israel depende de uma solução de dois Estados (um para os palestinos e um para os judeus) e que seja resolvida a questão dos refugiados. A aproximação entre sauditas e israelenses é extremamente problemática para o Irã, país teocrático islâmico que financia grupos como o Hamas e o Hezbollah, considerados terroristas pelo mundo ocidental. A rivalidade entre os países é causada por diversos fatores: a proximidade da Arábia com os americanos (inimigos número um do governo de iraniano), as diferentes ramificações do islamismo, que são maioria entre suas populações (persas xiitas e árabes sunitas) e a busca pelo posto de potência regional.